Afinal o que é que ela quer?
O tempo passa e parece que está cada vez mais perdida. Os anos passam e em vez de ter os pés assentes no chão tem o coração mais avoado de sempre!
Porque não se decide ela? Do que está espera? É assim tão difícil saber ou perceber o que lhe vai dentro do coração, ou daquela cabeça tonta?
Porque não responde às perguntas essenciais: gosta ou não gosta? quer ou não quer?
Sempre indecisa, sempre com medo, sempre angustiada...
A vida dela parece estar sempre enfiada num barco à deriva no meio do mar, mas não um mar calmo e tranquilo, não! Porque ela não é assim! É um mar revolto, um mar turvo com a sua agitação... Mas depois acomoda-se às suas indecisões e não age!
Como pode ela viver sem saber se é feliz. Felicidade devia ser tudo na vida de uma pessoa, e ela não sabe se é feliz, acha que não conhece a felicidade. Mas será que isto já não é a sua resposta? Se não sabe o que é a felicidade, logo não é feliz! É fácil de entender! Ou não?!
Enfim! O que podemos fazer para lhe iluminar o caminho, para ser o seu farol!?
Ela tem uma certeza incerta dentro da cabeça que não a deixa dormir à noite! Como se tudo à volta não fosse real... ela não fosse real!
Fica difícil acreditar em tudo o que lhe dizem, fica complicado para ela organizar as informações, saber o que está certo, o que está errado, o que faz de bem ou de mal, e se o deve fazer ou ter feito!
Ela está sentada e pensa no que viu, no que sentiu, compara rostos, emoções, compara estilos e ambições! Ela pergunta-se "o que será melhor?", ela não sabe o que escolher ou porque escolher... "Porque não posso ficar com tudo?" - pensa ela.
Vai, sabe que ninguém a espera, ou então, que todos têm pressa de a ver chegar... Sente-se indiferente e tão diferente com todos os acontecimentos à sua volta... E ela volta, volta a estar prester a cair, a ceder, a desvanecer, dá voltas e voltas sem perceber a direcção que tomar, sem saber como voltar.
Tem sempre detro dela a melodia que lhe acolhe o passo, que a faz andar, que a faz parar... Sente-a, flutua nela e acredita que tudo correrá bem, que tudo terá solução e que sempre terá razão! A razão que lhe fará pensar, a razão que lhe dirá como agir ou, levantar quando cair. A razão que a cerca de intenção, a intenção de querer fazer mil e uma coisas, de querer ser, de querer estar, de querer poder sem precisar.
E ela está sentada e pensa!
Os dias dela têm custado menos a passar, as coisas sossegaram um pouco ao seu redor e mesmo (ou principalmente) dentro dela...
Agora até surgiu uma oportunidade, uma oportunidade de concretizar um sonho, mas ela não sabe como fazer para aproveitar essa oportunidade sem magoar os demais...
Têm-lhe passado algumas coisas interessantes pela cabeça, coisas que cabeças mais "sofisticadas" (chamemos-lhe assim) nunca compreenderiam...
A realização de um sonho é algo que pode levar algum tempo a alcançar, mas também pode levar à destruição de vários outros sonhos, e é nisto que ela pensa!! Como destruir um sonho de alguém que ama para realizar o seu? Mas é o seu sonho, não há muito que pensar!! Mas ela pensa, porque ela sabe que para alcançar o seu sonho não teria necessariamente destruir o dos outros, mas teria que esperar mais tempo ainda!!!Sempre o tempo...
Ela tem um papel que lhe dá um papel na sociedade, um papel difícil de representar, cada vez mais difícil de representar, e ela adora essa sua personagem dentro da sua vida, mas nem sempre o filme da sua vida a recruta para desempenhar esse seu papel... E esse é o sonho dos outros, ocupar a cena interpretando a sua verdadeira personagem, aquela que ela conquistou depois de vários anos de castings...
Já ela...
É certo que ela adorava poder juntar o útil ao agradável, ou seja, obter o seu sonho através do sonho dos outros (que também é um pouco seu), mas ela não se importa de ter papeis secundários, se isso a fizer alcançar rapidamente o seu verdadeiro sonho, e isso ninguém compreende, porque também ninguém entendeu o que ela realmente quer... e ela já explicou, isso ela já fez....
Ela tem medo de deixar o tempo passar de mais... de ser tarde de mais...
É o fim!
O fim... 48... 48 horas a separam do ínicio e do fim da sua vida... 48 horas é o tempo que lhe resta para começar tudo o que nunca começou, fazer o que nunca fez, e em 2880 minutos tentar recuperar a sua alma e puder partir em paz...
É pouco tempo? É muito tempo? É o tempo que ela já teve e nunca o utilizou... nunca... Agora vê-se encurralada, vê-se pressionada por estes longos e ao mesmo tempo curtos 172800 segundos.
Ela tem tanta coisa para resolver, tanta... Por onde vai começar? Claro... Falar com a mãe, dizer-lhe que gosta dela, mas que toda a vida se sentiu sufocada, que pelo menos nos seus dois últimos dias quer passá-los sem as suas interrogações e recriminações. Ela só quer(ia) poder arcar com tudo, com a responsabilidade, saber se é capaz de o fazer e não levar com as recriminações daquilo que não tem capacidade simplesmente porque nunca a deixaram experimentar fazer sozinha...
Depois... depois com certeza ela irá abraçar a mãe, beijá-la e sair para se despedir da irmã e dos seus cães, ela não vive sem eles...
Vai despedir-se dos amigos, dos sítios, dos cheiros, dos sons, das imagens, das pessoas... e por fim, ela vai ter com ele, o causador das suas angustias, das suas alegrias, vai dizer-lhe que o ama que sabe que também é amada embora lhe diga que não, vai tentar-lhe explicar que não sabe já o motivo por terem ficado tanto tempo separados, e que não faz sentido isso acontecer...
Vai beijá-lo quando ele tentar dizer que não, que já decidiu que ela não faz parte da sua vida e caindo em seus braços só lhe pedirá que faça parte da sua morte...
Se ela fosse outra pessoa? Que pessoa ela escolheria ser? Mais bonita?Mais atraente? Ou será que as diferenças que ela teria não se prenderiam com os seus (ou falta deles) atributos físicos?
Se ela fosse outra pessoa, concerteza encontraria a coragem que lhe falta frequentemente para resolver alguns pontos da sua vida... Se calhar poderia não ser tão feliz, ou infeliz mas seria de certeza bem mais decidida, sem falsas esperanças, falsos planos, senhora da sua vida, sem medo de arriscar, nem tão pouco de falhar...
Seria bem mais dinâmica, ou pelo menos mais eficaz a resolver os seus assuntos, não se submeteria a qualquer tipo de ameaças ou ordens, e não teria medo de enfrentar quem quer que fosse para viver um momento só dela...
Com toda a certeza também não começaria a chorar sempre que algum assunto lhe fizesse ficar com um nó na garganta, as palavras não quisessem sair, o coração acelerasse, as pernas tremessem, e os nervos se apoderassem dela...
Ela seria completamente diferente. Talvez quisesse manter a sua franqueza, mas acabaria com sua incapacidade para o confronto, e sua imensa capacidade para se vitimizar, se enfraquecer diante os monstros que ela própria cria.
Enfim, alguém disposto agarrar o touro pelos cornos e fazer dele um animal de estimação e viver feliz, projectando a sua vida e alcançando os seus objectivos, sem nunca baixar a cabeça e enfrentando o tempo, tornando o seu aliado e não o seu inimigo.
Ela tem andado completamente alheada de tudo!!
Alguns dias atrás algo, alguém despertou a sua atenção. Alguém mais novo, embora mais vivido, sentiu inveja dessa vivência, aliás ela é invejosa nesse aspecto, não que queira mal a quem quer que seja, mas inveja a vida que muitos levam, a vida que muitos fazem, livres de pressões, de prisões, livres das amarras, de alguém a controlar os seus passos, livre das repreensões sem sentido, das más caras, livres...
Ela sente-se frustrada por ter uma vida tão oprimida, de não conseguir desprender-se. Ela sabe que tudo melhorou bastante, e sabe também que falta muito para que tudo seja como ela sempre idealizou, mas sobretudo sabe que perdeu por não ter arriscado mais cedo, por não ter imposto o seu querer, a sua maneira de pensar, por não ter vivido o que merecia, ficou com medo das opressões, das discussões, das invasões de espaço, dos maus tratos psicológicos e das cobranças materiais... Ela foi fraca, tão fraca...
Ela queria remediar a situação, mas ainda não sabe se a situação tem remédio, mas ela deseja que sim, e como o deseja... Vai planeando o momento certo para fazer as coisas, para agir, vai pensando, e imaginando as situações, vai criando ocasiões e vai andando aos empurrões contra a sua fraqueza, que francamente é mais forte que ela...
Não desiste... Tenho que dizê-lo: ela é burra, é infantil, é estúpida... É estúpida em acreditar que vai conseguir alguma coisa com as suas atitudes...
Bater de frente com os obstáculos não vai fazer com que os ultrapasse, não vai!! Por mais que ela marre contra o muro, não vai fazê-lo ceder...
E pensa até em contorná-lo, ela pensa... mas no entanto acaba sempre às turras com o que a limita, acaba sempre ainda mais reprimida, acaba sempre mais magoada, mais definhada, mais desiludida e desamparada...
Ela tenta imaginar o dia de amanha!! Como ela é sonhadora!! Tão sonhadora, até faz dó!! Apetece por vezes dar-lhe uma boa bofetada e fazê-la acordar para a realidade!!
Parece tudo tão cor-de-rosa para ela, diz ela que a vida já é cinzenta o suficiente!!! Histórias!!! Ela não quer ver na realidade como as coisas são, insiste em cair no mesmo erro de sempre de que as coisas se resolverão com o tempo, com paciência, não se apercebe que quanto mais o tempo corre mais ela se afunda, que cava mais a sua cova, que vai ficando cada vez mais presa na teia que lhe lançaram e da qual ela não consegue sair, por ser demasiado acomodada à resolução que tempo tem para lhe dar!!!
Tão ingénua que ela é!! É mais fácil, é mais fácil para ela, afinal de contas é só esperar que o tempo passe!! E depois, ainda se atormenta mais pois vê que o tempo não passa, ou pelo menos não passa como ela deseja..
E ela vive assim, atormentada por dentro, mas sempre com um grande sorriso por fora... um grande sorriso por fora...
Ela tem imensas caras! Tem um sorriso bem definido que faz inveja a muita gente, que irrita muita gente...
A sua alegria é quase contagiante, mesmo quando tudo por dentro está mais cinzento e pesado do que nunca.
É difícil percebê-la, ela mesma o tenta tantas vezes... Como não consegue? É tão visível! É tudo tão claro...
Ela brinca, brinca como uma criança, a criança que é, que nunca deixou de ser e nunca deixará... Mas também consegue ser séria... será que consegue?!
Ela sabe que tem medo de arriscar, isso ela sabe... Como podem dizer que um sagitariano é aventureiro, destemido, ousado, ela não é nada disso, e como a entristece!!
Esconde-se por detrás do seu sorriso, sorriso de menina, sorriso de criança que ganha a sua melhor prenda, que para ela pode ser a última invenção de todos os tempos, como o simples cruzar de dedos com aqueles que mais ama, com aqueles por quem, de algum modo sente um enorme carinho...
Ela é assim, meio criança, meio adulta, tentando lutar pelo que sente, tentando lutar contra o que sente mas, sempre que possível com o melhor dos seus sorrisos...